
Quando alguém que amamos morre, não é apenas o coração que sente — o cérebro também entra em movimento. Gosto de pensar no luto como uma reforma interna, uma daquelas obras que bagunçam tudo por dentro antes de deixar o espaço mais ajustado à nova realidade.
O luto é como uma reforma no cérebro: algumas áreas ficam ocupadas processando a perda, enquanto outras funcionam mais devagar.
Sabe quando a gente reforma uma casa? Alguns cômodos ficam interditados, cheios de ferramentas e poeira. Outros ainda estão disponíveis, mas não funcionam como antes porque a circulação mudou. É assim também com o cérebro enlutado: algumas áreas ficam ocupadas processando a perda, enquanto outras — como a memória, a concentração ou até mesmo a energia para tarefas simples — parecem funcionar mais devagar.
Essa comparação ajuda a entender por que, durante o luto, é tão comum esquecer compromissos, sentir cansaço constante ou ter dificuldade de se concentrar. Não é “frescura” e nem “falta de força de vontade”. É o cérebro fazendo uma obra silenciosa para tentar reorganizar a vida depois de uma perda.
O que é o luto, afinal?
O luto é a resposta natural à perda de alguém significativo. Não é apenas tristeza. É um processo complexo que envolve emoções, pensamentos, reações físicas e até espirituais. Sigmund Freud já dizia: “O luto é o processo pelo qual o eu se desliga do objeto perdido.”
Isso significa que não é sobre “esquecer” quem se foi, mas sim aprender a viver de outra forma, reorganizando os vínculos e encontrando um novo equilíbrio. A escritora Elizabeth Kübler-Ross, referência no tema, disse algo muito verdadeiro: “A realidade é que você nunca vai superar a perda de um ente querido; você vai aprender a conviver com ela.”
E esse conviver exige tempo, paciência e, acima de tudo, gentileza consigo mesmo.
A obra invisível acontecendo dentro de você.
Durante o luto, o cérebro ativa regiões ligadas à dor social — as mesmas que se acendem quando sofremos uma rejeição ou solidão profunda. É por isso que a perda de alguém tão importante pode doer de forma tão física.
Enquanto isso, outras áreas ligadas à motivação, à concentração e até ao prazer podem ficar mais lentas. Como numa obra, é como se a energia da casa estivesse desviada para um único cômodo.
Você pode sentir que não consegue dar conta de tudo como antes. E está tudo bem. O luto não diminui quem você é, mas te convida a respeitar esse tempo de reforma.
O convite do luto: reconstruir-se.

C.S. Lewis, escritor que perdeu a esposa, escreveu: “A dor do luto é tanto parte da vida quanto a alegria de amar: é talvez o preço que pagamos pelo amor, o custo do compromisso.”
Essa frase traz uma verdade profunda: se o luto dói, é porque o amor foi grande. A obra que acontece dentro do cérebro não é um erro, mas um esforço para se adaptar ao vazio.
O luto nos convida a reconstruir a vida sem a presença física daquela pessoa, mas preservando os significados, o amor e as memórias. E isso não é um caminho rápido. Cada tijolo colocado nessa reforma é um pequeno avanço.
Talvez, enquanto você lê esse texto, esteja sentindo o peso dessa reforma acontecendo aí dentro. Pode ser que esteja cansado de ouvir que precisa “ser forte” ou que “o tempo cura tudo”. A verdade é que não existe um tempo certo para o luto. Existe o seu tempo.
O que pode te ajudar é compreender que essa bagunça faz parte. Que o esquecimento, a confusão mental ou até a oscilação de sentimentos não são fraquezas, mas reações naturais.
E, pouco a pouco, é possível aprender a colaborar com essa reforma — cuidando de si, respeitando os limites e permitindo-se sentir.
Gosto de lembrar uma frase de Chico Xavier: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”
O luto é justamente esse processo: não podemos mudar a ausência, mas podemos escolher como viver daqui em diante. O cérebro vai, aos poucos, reorganizando-se. E você pode ser ativo nessa jornada, aprendendo a lidar com a dor sem precisar se abandonar.
Se esse texto te trouxe acolhimento, leve consigo essa ideia: o luto não é um inimigo, mas um caminho de reconstrução. Uma reforma difícil, mas que pode abrir espaço para novos sentidos.
Fez sentido ai? Me conta nos comentários…
Com carinho, Psi Taila Freitas!