Quando falamos em autocuidado, muitas vezes pensamos em algo supérfluo: uma rotina de beleza, um banho demorado, uma atividade de lazer. Mas no luto, o autocuidado ganha uma dimensão muito mais profunda. Ele se torna uma estratégia de sobrevivência.
O que a ciência diz sobre o autocuidado…
Pesquisas na área da psicologia e da saúde emocional têm mostrado que o autocuidado não é apenas um detalhe, mas um fator protetor no enfrentamento do luto.
Um estudo publicado no Journal of Death and Dying (2017) aponta que pessoas enlutadas que incorporam práticas de autocuidado conseguem lidar melhor com a sobrecarga emocional, apresentam níveis menores de estresse e maior percepção de bem-estar.
Outras pesquisas em psicologia da saúde reforçam: cuidar de si mesmo durante o luto favorece o equilíbrio emocional, fortalece o sistema imunológico e ajuda a regular os altos e baixos tão característicos desse processo. Em outras palavras, o autocuidado não elimina a dor, mas cria condições para que ela seja vivida de forma menos destrutiva.
Autocuidado como estratégia de enfrentamento…
No campo da psicologia, chamamos de “estratégias de enfrentamento” os recursos que usamos para lidar com situações estressantes. O autocuidado é considerado uma dessas estratégias, porque permite ao enlutado recuperar pequenas doses de energia e resiliência para atravessar os dias difíceis.
É como se, ao cuidar de si, mesmo em gestos mínimos, a pessoa reafirmasse silenciosamente: “Eu ainda existo, eu ainda importo, eu ainda tenho valor.”
Esse movimento é essencial porque o luto muitas vezes traz a sensação de que tudo perdeu o sentido. O autocuidado, então, não é egoísmo — é a base que sustenta o processo de ressignificação.
Martha Medeiros escreveu: “Cuidar de si é o maior gesto de amor próprio.”
No luto, esse gesto ganha ainda mais força, porque é o que mantém viva a possibilidade de reconstrução.
Por isso, talvez a grande reflexão aqui não seja sobre o que fazer, mas sobre como olhar para si nesse momento. O autocuidado no luto é um lembrete: mesmo em meio à ausência, você continua presente.
E quando você se mantém presente para si, a reforma interna que o luto provoca se torna menos caótica e mais possível de ser acomodada.
O autocuidado é a forma mais concreta de dizer a si mesmo que a dor não vai te engolir por completo. Ele não acelera o luto, não apaga a saudade, mas cria espaço para que você possa atravessar esse caminho com menos sobrecarga.
Se o luto é um processo inevitável, o autocuidado é uma escolha que pode transformar a forma como você o vivencia.
