
Quando alguém muito importante vai embora, não é só o coração que sofre. O cérebro também entra em colapso. É como se um terremoto tivesse passado pela sua mente: tudo aquilo que antes estava no lugar, memórias, foco, sono, até sua energia, de repente fica espalhado pelo chão.
E aqui vai algo que pode te aliviar: isso não é fraqueza sua. É ciência. Seu cérebro realmente muda quando você está de luto.
É isso que acontece no seu cérebro quando você perde alguém…
Imagine que o seu cérebro é uma cidade iluminada à noite. Cada região é um bairro: um cuida da memória, outro das emoções, outro da tomada de decisão. No luto, alguns bairros ficam em apagão, outros acendem de forma intensa demais.
- Amígdala: é o “alarme de incêndio” do cérebro. No luto, ela dispara o tempo todo, trazendo medo, tristeza, choro inesperado.
- Córtex pré-frontal: é como o “prefeito” da cidade, que organiza tudo. Só que no luto ele fica sobrecarregado, e aí surgem dificuldades de concentração e decisões simples parecem montanhas.
- Ínsula: é a parte que faz você sentir dor, não só física, mas a dor que aperta por dentro. É por isso que, às vezes, o luto chega a doer no corpo.
Esse caos explica porque tantas pessoas dizem sentir a cabeça “nublada” ou como se estivessem andando em meio a uma neblina mental. É o famoso brain fog, e não é imaginação.
O impacto além da mente…
O luto não fica só na cabeça. Ele mexe no corpo inteiro.
- O sono bagunça: você pode passar noites acordado, e isso só aumenta o cansaço e a dificuldade de raciocinar.
- O coração acelera: o corpo libera mais hormônios do estresse, como o cortisol, e isso aumenta pressão, ansiedade e até o risco de adoecer.
- A imunidade enfraquece: não é raro ficar gripado, doente, ou sem energia depois de uma grande perda.
É como se o corpo inteiro estivesse dizendo: “Eu não sei viver nesse mundo novo sem a pessoa que se foi”.
O luto prolongado: quando a saudade vira prisão…
Para algumas pessoas, o tempo não traz alívio. A dor continua tão presente que parece impossível seguir. A ciência chama isso de luto prolongado.
Nesses casos, o cérebro funciona como um disco arranhado: ao invés de se adaptar, ele volta sempre para a mesma faixa, memórias, imagens, lembranças dolorosas. É como se houvesse uma parte da mente que se recusa a aceitar que a realidade mudou.
Há caminhos de cuidado…
A boa notícia é que, assim como o cérebro se desorganiza, ele também tem a capacidade de se reorganizar. É a chamada plasticidade cerebral — a mesma que permite que aprendamos coisas novas.
Alguns caminhos que ajudam:
Falar sobre a dor — na terapia, em grupos de apoio ou com pessoas de confiança. Nomear a dor ajuda a reorganizar a mente.
Cuidar do corpo — sono, alimentação, movimento. O corpo e a mente andam juntos.
Práticas de calma — como meditação, oração, respiração consciente. Elas ajudam a diminuir o barulho da amígdala (o alarme do cérebro).
Rede de apoio — porque o luto não foi feito para ser vivido sozinho.
Pense no seu cérebro como um quebra-cabeça. Quando você perde alguém, é como se várias peças fossem arrancadas de repente. No começo, só se enxerga o buraco. Mas, com o tempo e com cuidado, o cérebro vai se reorganizando, criando novas conexões, novos significados.
O luto não apaga o vazio da peça que falta, mas ajuda a redesenhar a imagem da sua vida ao redor dela.
Fez sentido ai? Me conta nos comentários…
Com carinho, Psi Taila Freitas!
Referências
- O’Connor, M.-F. (2019). Grief: A Brief History of Research on How Body, Mind, and Brain Adapt. Psychosomatic Medicine.
- American Brain Foundation. How tragedy affects the brain.
- Gündel, H., et al. (2003). Functional neuroanatomy of grief: An fMRI study. American Journal of Psychiatry.
- Bryant, R. A., & Korgaonkar, M. S. (2021). Distinct neural mechanisms of emotional processing in prolonged grief disorder. Psychological Medicine.

